A prova do ENEM realizada nesse último fim de semana trouxe, dentre outras coisas, uma discussão bastante conhecida, mas que poucos levam a sério: a diferença salarial entre Marta e Neymar. A questão apontou, em números, quanto vale o gol de cada um, deixando para os candidatos interpretarem que o esporte ainda é caracterizado pela identidade masculina no Brasil, fato já conhecido por muitos.
A presença dessa discussão em exames nacionais é bastante relevante. É falando sobre os preconceitos e apontando problemas que as mudanças podem, de fato, acontecer. Ironicamente, no entanto, Bolsonaro não gostou da iniciativa e julgou a questão como “ridícula”, dizendo que o “futebol feminino ainda não é realidade no Brasil”. A fala do presidente, apesar de equivocada e extremamente simplista, não é nem um pouco surpreendente.
Como esperar uma reação diferente de alguém que enxerga mulher como sinônimo de “fraquejada”? Que prega a manutenção de um sistema de submissão feminina? Marta, no entanto, é prova de que mulheres estão longe de serem fracas e inferiores. Seis vezes eleita a melhor jogadora do mundo, Marta é também a maior artilheira da seleção brasileira (entre homens e mulheres) e a maior goleadora em Copas do Mundo (também entre homens e mulheres, com 17 gols - um a mais que o alemão Klose, a quem é, muitas vezes, dado o título de maior goleador em Copas). Marta representa tudo o que todo jogador de futebol quer ser, e ainda assim recebe milhões a menos, o que mostra que a questão do ENEM está longe de ser ridícula.
Mas será que o futebol feminino realmente não é realidade no Brasil? É claro que há diferenças de investimento, patrocínio, torcida e salários - tudo isso muito graças à história da modalidade, que foi proibida no Brasil por 4 décadas. Mas mesmo com tantas dificuldades, a seleção do país já venceu a Copa América 7 vezes, levou 3 ouros no Pan e 2 pratas nas Olimpíadas. Também foi no Brasil que o recorde de audiência na decisão da Copa do Mundo feminina de 2019 foi batido, superando os Estados Unidos, país que tradicionalmente investe e apoia o futebol feminino. Dá pra imaginar como seriam os recordes e os títulos brasileiros caso a equidade no esporte fosse atingida?
Em meio a isso tudo, quem não deixou de se pronunciar sobre a infeliz opinião do presidente foi a Marta, que mesmo sem citar nomes, deixou um recado importante: “Uns serão lembrados como os melhores da história, já outros…”. Marta está eternizada como a melhor jogadora do mundo por, pelo menos, muito tempo. Bolsonaro, por sua vez, é o melhor pior presidente que o Brasil poderia eleger.
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