terça-feira, 3 de outubro de 2017

Entrevista com Rogerio Revelles, autor do blog "Tardes de Pacaembu"

Olá Futebolistas e Futeboleirxs!


Agora nosso blog também abre espaço para entrevistar amigos e parceiros do futebol.

A primeira entrevista é com Rogério Sanches Revelles, autor do blog Tardes de Pacaembu: o futebol sem as fronteiras do tempo. Paulistano criado no bairro da Vila Maria, formado em História, trabalhou como bancário e securitário. Corintiano de 54 anos, é casado e pai de uma jornalista de 23 anos.





Como surgiu a ideia de criar o Tardes de Pacaembu?

Rogério Revelles: Tardes de Pacaembu nasceu para contar minhas experiências dentro do Pacaembu. Era uma espécie de "livro de memórias" do que vivi em cada jogo do Corinthians que assisti desde 1971.

Nas primeiras postagens eu contava ao leitor como eu e meu pai fazíamos para chegar ao estádio. Como era o transporte, o sistema de bilheteria, o que se vendia dentro do estádio, onde era o placar do estádio, por onde os times entravam em campo... Coisas assim. Lembrava de cada jogo, das vitórias e do sentimento triste das derrotas. Da festa pelos grandes triunfos e do silêncio pelos fracassos; comemorados pela torcida rival, já que naquela época nem cordas existiam para separar as torcidas.

Em determinado momento percebi que não passaria dos 150 posts. Então comecei a escrever sobre os jogadores do Corinthians nos anos setenta. É lógico que percebi também que não poderia apenas falar dos jogadores do Corinthians daquela época. Então, comecei a falar dos jogadores do Corinthians da época do meu pai, pois ele sempre me contava muitas passagens do tempo dele.

O próximo passo foi descrever os jogadores que assisti contra o Corinthians. Falar dos outros times foi o grande momento de mudança do blog. Com o passar do tempo as crônicas pessoais desapareceram e o blog tomou o formato atual. Não esperava no entanto fazer tantos amigos.

Tardes de Pacaembu ganhou corpo, ganhou representatividade, respeito e admiração por suas histórias e fotos originais.

E ao contrário do que alguns possam pensar, apesar de admirar o trabalho desenvolvido pelo Milton Neves no site Terceiro Tempo, minha pretensão nunca foi ser um competidor ou um concorrente ou coisa parecida. Escrevo porque gosto. Pesquiso muito, trabalho demais, mas sempre com muito amor e dedicação.



Qual é a maior potência que você acredita que o futebol carrega e porquê?

Rogério Revelles: O futebol tem poder! Aproxima pessoas, cria e destrói amizades. Termina casamentos... Faz rir e faz chorar! Desenvolve memória afetiva, visual, sonora e até olfativa. Lembro das músicas de cada época, do cheiro da tinta usada nas bandeiras vendidas pelos ambulantes, dos programas esportivos do tempo do “Show de Rádio” do Sangirardi. Do barulho das peruas de lotação subindo a Avenida Angélica depois de mais um jogo. Dos dias de calor que repentinamente são superados pelo frio do final de tarde. Dos banheiros fedorentos e lotados. Do barulho terrível dos fogos de artifício. Como afirma Milton Neves: “O futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes”.

Você aprende sobre quem realmente a pessoa é no exato momento em que ela fala sobre os motivos da derrota ou da vitória do time dele. 


Rivellino no Corinthians e Rogério Revelles no detalhe


Qual foi a primeira vez que foi no Pacaembu? Lembra-se de algum jogo inesquecível?
Rogério Revelles: Meu primeiro jogo no Pacaembu foi inesquecível. Eu vivia pedindo para meu pai me levar e ele respondia que eu era muito pequeno e coisa e tal... Até que um dia, ao lado de meu pai e de minha mãe, passei pela primeira vez pelos enormes portões do Estádio do Pacaembu. Naquela noite de quarta feira de 11 de fevereiro de 1971, sentamos nas numeradas e o adversário foi o Flamengo, pelo antigo Torneio do Povo. O jogo terminou 0x0, mas a experiência foi memorável. Sempre fui observador e em determinado momento meu pai me repreendeu: “Para de olhar para o vazio e assista ao jogo!”. Mas a imensidão daquilo tudo era muito maior do que ficar olhando apenas para o gramado.

Jogos inesquecíveis; e foram muitos: Vitórias e derrotas. Ainda pequeno, aprendi a conviver com os altos e baixos da vida. A vitória que nunca vou esquecer: Corinthians 3x1 Palmeiras – Agosto de 1974 – Primeiro turno do campeonato paulista. Um virada espetacular com 3 gols do “magrelão” Zé Roberto. Outra vitória incrível foi na despedida de Pelé do Pacaembu em 1974. O Corinthians venceu por 1x0 com um gol de Rivellino. A derrota que nunca vou esquecer: São Paulo 3x0 Corinthians - Campeonato paulista de 1975 – O grosso do ponteiro direito Terto do São Paulo acabou com o jogo.


No seu blog você conta a história de jogadores históricos, qual você gostaria de ter visto?
Rogério Revelles: Gostaria muito de ter assistido a final do campeonato paulista do Quarto Centenário, em fevereiro de 1955, Corinthians 1x1 Palmeiras. Mas nem era nascido ainda!



O atual prefeito de São Paulo quer privatizar o Pacaembu, o que acho desse projeto?

Rogério Revelles: Cresci dentro do Pacaembu e honestamente tenho minhas dúvidas quanto ao assunto. O Pacaembu foi concebido para o uso em práticas esportivas. Antigamente existia uma pista de atletismo em volta do gramado. As atividades artísticas eram desenvolvidas na Concha Acústica. 

Com o surgimento do Tobogã, no início dos anos 70, ficou evidenciado a preferência da utilização do Pacaembu para a prática do futebol, mais especificamente. Hoje em dia, por exemplo, temos um Maracanã que não é mais o mesmo "Maracanã", o maior do Mundo.

Não existe mais espaço para os "geraldinos" e o complexo do Maracanã, como um todo, apesar de funcional e confortável, ficou elitizado demais. Honestamente, sou contra a privatização. A administração da municipalidade tem que oferecer "pão e circo". Privatizar o "circo" representa menos acesso aos que realmente precisam de diversão. As Arenas são lindas, os ingressos ficaram caros e distantes do verdadeiro público do futebol. Quem privatiza quer diminuir os custos e quem assume quer faturar.

Quem não pode pagar fica longe do espetáculo da bola, do lado de fora.

Um tanto estranha essa nova realidade.





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