O time do América de Cali, vice da Libertadores em 1985, 1986 e 1987, também amargou em 1996 mais um vice campeonato.
Os torcedores do América da cidade colombiana de Cali celebravam nas tribunas do Estádio Nacional de Santiago, no Chile, o que parecia o final de um período de azar. O empate sem gols ante o Peñarol na partida de desempate da final, em 31 de outubro de 1987, lhes dava enfim a Copa Libertadores que se havia escapado nas últimas edições: em 1985 contra o Argentino Juniors, em 1986 contra o River Plate, ambos clubes da Argentina. A esquadra roja havia ganho 2 a 0 en Cali e perdido por 2 a 1 em Montevidéu, e segundo o regulamento vigente, se o jogo decisivo terminasse empatado depois de 90 minutos mais os 30 de prorrogação, se declarava campeão aquela equipe que obtivera melhor diferença de gols. Os fanáticos torcedores haviam viajado para a capital chilena crentes que ganhariam na sua terceira tentativa. A poucos segundos de se esgotarem os 120 minutos los hinchas iniciaram a tradicional contagem regressiva que começava no "dez" e terminaria no "zero", pondo fim ao seu martírio.
Mas, quando os cânticos estavam no "cinco", um chute lançado cruzou o campo e caiu nos pés do atacante aurinegro Diego Aguirre, que passou por três e emendou uma bomba que quase furou a rede, surpreendendo Julio Falcioni. O Peñarol conquistava sua quinta copa!
Diego Aguirre marca no último minuto da prorrogação.
"No ano seguinte mudaram o regulamento", se queixou tempos depois Falconi com amargura. "Se tivessem feito a mudança antes teríamos sido campeões sem a necessidade de uma terceira partida", lamentou com razão. Na verdade, em 1988, o Nacional do Uruguai se impôs ante ao Newell´s Old Boys da Argentina depois de perder por 1 a 0 em Rosário, vencendo por 3 a 0 em Montevidéu. Se esta derrota foi dolorosa para os protagonistas, também foi muito sofrida para os torcedores que haviam ficado em Cali. Cumprido o minuto 119 e com o América a centímetros da glória, um descomunal apagão na rede elétrica deixou todos os lugares da cidade sem televisão. A ansiedade por saber o que ocorria no Chile durou apenas um minuto. Mas, quando a energia voltou, milhares de fanáticos dos diablos rojos ficaram atônitos: não entenderam o porquê da comemoração dos futebolistas de camiseta amarela e negra que estavam dando a volta olímpica. Uma insolente legenda dizia "Peñarol Campeão!" junto as inverossímeis explicações do ocorrido apareciam aos petrificados torcedores frente a uma nova frustração. A Copa tinha evaporado em uma abrir e fechar de olhos... literalmente! Confira o gol de Diego Aguirre:
Texto adaptado de "Histórias Insólitas de la Copa Libertadores", de Luciano Wernicke, Editora Planeta, 2015.
A vitória parcial do clube paraguaio Olímpia, 1 a 0 como visitante do Clube Desportivo Jorge Wilstermann da Bolívia, incendiou os torcedores que lotavam o Estádio Félix Capriles da cidade de Cochabamba naquela noite de 29 de março de 1979. O gol de Hugo Talavera, aos 15 minutos, praticamente eliminava a equipe “aviador”, embora só se haviam disputado duas rodadas, porque nesse tempo classificava apenas uma equipe por grupo para às semifinais. Precisando de um empate e superados tecnicamente por seu rival, os bolivianos começaram a se exceder no uso da força.
O jogo se tornou muito violento e o espetáculo se assemelhava mais a um combate de boxe do que uma partida de futebol. Aos 11 minutos da segunda etapa, com o marcador 0-1, os protagonistas travaram uma batalha campal que só pode ser contida pela entrada das forças policiais em campo. Quando a calma foi recobrada, o árbitro brasileiro José Roberto Wright sacou de seu bolso o cartão vermelho para somente um jogador visitante, o atacante Enrique Atanasio Villalba, e a quatro homens do conjunto local: os defensores Carlos Arias, Miguel Bengolea e Raúl Navarro, e o atacante Juan Sánchez. Segundo a súmula, um dos expulsos do Wilstermann havia dado “uma voadora buscando o corpo de seu rival”.
A punição desigual de Wright para a peleja “todos contra todos” enfurecia mais os espectadores, porém a hecatombe ocorreu alguns minutos depois quando favorecido pela inferioridade numérica de seu oponente, o Olímpia marcou seu segundo gol, feito por Evaristo Isas. Para evitar uma goleada, o técnico local, Roberto Pavisic, ordenou que um dos seus homens “se lesionara” e deixara a sua equipe com seis integrantes. Como não podia mais fazer substituições, Wright se viu obrigado a apitar o final da partida vinte minutos antes porque o clube boliviano não contava com o número mínimo de sete futebolistas exigido pelo regulamento.
Time do Olímpia, campeão da Copa Libertadores de 1979.
Só que a história não terminou ali.
Centenas de torcedores revoltados invadiram o gramado e começaram a correr atrás dos jogadores do Olímpia e, principalmente, do árbitro, para saciar sua sede de vingança pelo que consideravam uma tremenda injustiça. A polícia pouco pode fazer para conter tanta gente. Vários jogadores do Olímpia receberam socos e chutes. Acompanhados por alguns agentes, os paraguaios escaparam da turba e se refugiaram no vestiário. Wright e seus assistentes conseguiram escapar, mas permaneceram várias horas reclusos dentro do seu vestiário, pois o estádio havia sido cercado por centenas de torcedores indignados. Segundo revelou muitos anos depois o meio-campista local Jhonny Villarroel durante uma entrevista, Wright só pode sair do estádio disfarçado de mulher. O brasileiro e seus colaboradores foram levados para a cidade de Oruro, mais de duzentos quilômetros de Cochabamba, porque tinham torcedores esperando o árbitro no aeroporto.
Como consequência aos graves incidentes, o Estádio Félix Capriles foi suspenso por um bom tempo pela Conmebol, assim como os cinco expulsos. O clube Jorge Wilstermann disputou as partidas que faltavam como local em Santa Cruz de la Sierra e La Paz. Perdeu, igual para quando atuou como visitante. A equipe do Olímpia, no entanto, seguiu adiante: ganhou o grupo, as semifinais e a final, levantou a Copa Libetadores destronando o bicampeão Boca Juniors. Wright, no entanto, protagonizaria outra noite sinistra no torneio continental, dois anos mais tarde.
Texto adaptado de "Histórias Insólitas de la Copa Libertadores", de Luciano Wernicke, Editora Planeta, 2015.
Torcedores do Campinense esperam que o time repita a campanha campeã de 2013
Começou a competição mais empolgante do futebol brasileiro!
A Copa do Nordeste, apelidada de "Lampions League" pelos torcedores, há muitos anos apresenta um grande equilíbrio entre as equipes e seu regulamento proporciona fortes emoções nas fases de mata-mata. Os torcedores lotam os estádios desde a 1ª fase da competição.
Surpresas como o Campinense - finalista em 2016 e campeão em 2013 - é um exemplo do equilíbrio das equipes nessa copa. Se o Brasileirão e a Copa do Brasil privilegiam as equipes com grande poder econômico, a copa do Nordeste é a salvação pro torcedor dessa região tão apaixonada por futebol e que sempre revela grandes craques!
Neste ano a competição inicia com três favoritos: Ceará, Vitória e o atual campeão Bahia - os clubes nordestinos na elite do futebol nacional. Esta temporada conta com a ausência do Sport, que desistiu de participar em boicote à competição
Campeões
O Vitória é o maior campeão da competição com 4 conquistas (1997, 1999, 2003 e 2010), em seguida com 3 conquistas aparecem Bahia (2001, 2002 e 2017) e Sport (1994, 2000 e 2014). Também ergueram "a orelhuda" a equipe do Ceará (2015), Campinense (2013), Santa Cruz (2016) e América de Natal (1998).
Regulamento
Na fase preliminar, 8 equipes se enfrentam no sistema mata-mata em confrontos diretos que garantem os 4 vencedores na sequência da competição. Na primeira fase, 16 times são divididos em 4 grupos de 4, sendo que os dois primeiros avançam para as quartas de final. Quartas, Semifinal e Final são jogadas em partidas de ida e volta no sistema mata-mata.
Grupo A
CRB, Confiança, Santa Cruz e Treze.
Grupo B
Vitória, ABC, Ferroviário e Globo.
Grupo C
Bahia, Botafogo-PB, Altos e Náutico.
Grupo D
Ceará, CSA, Sampaio Corrêa e Salgueiro.
Colaboradores: Ricardo Araujo (torcedor do Náutico) e Claudio Cardoso (torcedor do Bahia).
Está partida tinha absolutamente tudo. Até uma suspensão que deixou para os arquivos um dado quase inédito: os primeiros 70 minutos disputados sob ditadura e seu término concluído na democracia.
O Metropolitano de 1983 estava com idas e voltas, em sintonia com que ocorria na sociedade, que em pleno anos de chumbo respirava uma nova esperança que amanhecia com a reconquista da liberdade. Os incidentes se sucediam rodada após rodada, inclusive tendo que lamentar mortes em algumas oportunidades.
Ferro Carril Oeste, campeão argentino de 1982: Carlos Arregui, Gómez, Garré, Cúper, Rocchia y Basigalup. Saccardi, Juárez, Márcico, Cañete y Crocco.
A competição também se viu
atravessada por uma greve de jogadores do River por falta de pagamento, que
levou o clube de Nuñes a atuar sete rodadas com uma equipe com integrantes de
juvenis e amadores, donde fizeram sua estreia na primeira divisão Néstor
Gorosito, Alejandro Montenegro, Mariano Dalla Líbera e Adrían De Vicente, entre
outros.
Em meio a esse incessante
movimento, havia algo que manteria sua firmeza inalterada, e era Ferro Carril
Oeste. Desde a chegada de Carlos Griguol a direção técnica havia adotado um
estilo que se perpetuava em todos os torneios desde 1981. E nesse Metro de 1983
não era a exceção, já depois de poucas rodadas da competição tomou a
liderança e não largou mais. Estava no alto a tabela e com
3 pontos de vantagem sobre Independiente e San Lorenzo, recebeu o Racing na noite
de quinta, em 1 de dezembro.
O quadro de Avellaneda era sua
antítese. Sem rumo há muitos anos na área institucional, essa desordem se
refletia no setor desportivo. Em 1982 se havia salvado do descenso no final com
uma fraca campanha e agora se encontrava na mesma situação: na tabela dos promedios (média de pontos da temporada
atual, com os pontos obtidos nas duas últimas temporadas definem os times
rebaixados) só superava Temperley e Nueva Chicago.
Ferro fez prevalecer desde o
início as diferenças de rendimento que havia entre ambos, a partir de sua
habitual pressão em todo campo e o bom manejo que Cañete-Márcico-Oscar Acosta
desenvolviam. Racing contraporia com redução dos espaços e tratar de buscar a
cabeça salvadora do veterano Víctor Marchetti. Assim se foi o primeiro tempo,
entre as intenções de bom jogo, mas sem profundidade de um e com a cautela de
outro.
O Racing parecia satisfeito com o
empate para suas opacas intenções de evitar o fantasma do rebaixamento. Para o
complemento não só não mudou sua postura ofensiva, como deixou isolados na
frente Rizzi e Marchetti contra a defesa adversária. Aos 60 minutos, quando o
Ferro começava a ganhar com mais perigo, chegou um dos momentos chaves daquela
noite: o árbitro Ricardo Calabria mostrou cartão vermelho para Alberto Márcio, jogador do Ferro que supostamente teria ofendido a arbitragem. A tribuna local, até então pacífica, se
enfureceu com a falha do juiz. Logo depois a abertura do placar, aos 70, Carlos Arregui de
pé direito definindo com categoria por sobre o corpo de Carlos Rodríguez.
Esse 1-0 acalmou os ânimos dos
torcedores locais, que continuaram cantando contra o trio de arbitragem, e aos
75 aconteceu o pior: uma pilha atacada pela plateia que dava para a Avenida
Avellaneda acertou o auxiliar Orville Aragno, produzindo um corte no pescoço.
Imediatamente o jogo parou e ao constatar o estado do juiz de linha por parte
dos médicos, se pediu a suspensão da partida.
Mas não era um fato isolado. O
futebol argentino retomava suas atividades nessa quinta, depois de uma semana
sem partidas, porque os árbitros haviam decretada uma greve pelas constantes
agressões que haviam sofrido. A interrogação era saber o que fariam ante uma nova
e grave situação. Na sexta, 2, foi marcada de febris reuniões com dois claros
epicentros: a Associação de Futebol Argentino e a Associação Argentina de
Árbitros, se reuniram e suspenderam o campo do Ferro, os juízes numa assembleia
decidiram continuar a jogar a partida na rodada seguinte, que estava prevista
para 48 horas depois.
A partida entre Ferro e Racing
ficou suspensa, ao mesmo tempo nessa mesma noite Independiente venceu como
local o Estudiantes 2-1 e o San Lorenzo igualo em um tento no seu campo ante o Nueva Chicago, deixando as posições: Ferro 40, Independiente 39 e San Lorenzo
38. Para o que importava para a Academia,
Temperley havia resgatado um valioso ponto em Córdoba (1-1 contra o Instituto),
deixando Racing com 27,00 de promedio,
Chicago com 26,50 e os Celestes com
26,00.
No domingo se disputou a 34º e a
grande surpresa foi a derrota do Ferro ante o Platense por 2-0, enquanto
Independiente chegava a liderança e San Lorenzo caia frente ao Vélez. Já a via
crúcis do Racing não parava: 1-3 ante Huracán em Parque Patricios.
Na quarta, 7, o Tribunal de
disciplina chegou a um veredito e determinou a continuação dos 15 minutos
restantes, que seriam jogados no campo do Atlanta dia 13, dividindo em tempos de
7 e 8 minutos respectivamente. Por esse motivo, a rodada do dia 14 seria
transferida para o dia 15. Uma verdadeira loucura de dias e partidas.
Entre a saída da sentença e o
reinício da partida, foram jogadas duas rodadas e um feito de muita comoção: no
sábado, 10, Raúl Alfonsín assumiu como presidente democrático, deixando para
trás sete anos e meio de uma sangrenta ditadura. Novos ares soprando no céu
argentino.
E chegou o dia da continuação da
partida. A expectativa foi imensa e por esse motivo estádio da Villa Crespo
estava praticamente lotado, pesando ser um dia de trabalho às seis da tarde. As
principais rádios mudaram sua programação para a transmissão desses 15 minutos.
A briga pelo título mostrava:
Independiente 44, Ferro e San Lorenzo 42. O time de Caballito necessitava
manter a vantagem para voltar a ponta. Na luta contra os dois últimos lugares do
rebaixamento: Racing e Temperley 28,00 e Nueva Chicago 27,50.
Depois dessa continuação
restariam somente três rodadas para o final do torneio. Nas formações se
puderam notar com claridade o objetivo de um e de outro. Ferro teria que sair
de campo com 10 jogadores por conta da expulsão de Márcico e por isso veio a
campo com um 4-3-1-1. Racing, decidido a jogar tudo, entrou com uma tática
ofensiva, com 3 defensores, 3 no meio e 4 atacantes.
A partir dessa pretendida vocação
de ir ao ataque, la Academia se
plantou no campo do rival, com uma maior posse de bola, mas sem profundidade.
Caldeiro produziu a primeira emoção da calorosa tarde quando ingressou a área e
Rocchia lhe sacou um balão, no choque reclamou pênalti. Foi o único lance da
primeira minietapa. Na segunda,
Racing seguiu tentando, se expondo ao suicídio que Ferro poderia gerar. Silvio
Sotelo se livrou de De Andrade e habilitou Acosta, que foi sozinho e na saída
do arqueiro Rodríguez, num arremate apurado, mas alto, por sobre o travessão.
A partida acabava. Ferro
conseguia o seu objetivo de manter o triunfo e empatar na liderança com o Independiente,
mas uma jogada inesperada aconteceu no minuto final. Félix Orte recebeu na
esquerda como ponteiro, partiu para dentro onde encontrou Marchetti na marca do
penal onde arrematou. Por ali se infiltrava Caldeiro, que quase na linha de
fundo empurrou para dentro do gol de Basigalup, decretando a loucura nas
tribunas populares celeste e branco. Racing, sofrendo até o último instante,
resgatava um ponto que parecia perdido e se montava na ilusão de se salvar,
enquanto o Ferro lamentava o ponto que lhe poderia render a glória.
Não havia tempo para festejos e
lamentos, pois 48 horas mais tarde deveriam afrontar seus respectivos jogos de
uma nova jornada de uma campeonato que seguia ardendo encima como embaixo.
Ferro viajou a Rosário para enfrentar o Central e perdeu. Terminou em terceiro,
a dois pontos do Independiente.
A equipe do Racing recebeu o Unión
em seu estádio e estava confiante. Em um enfrentamento parelho, aos 86 minutos
Caldeiro fez 2-1 enlouquecendo os presentes. Porém, dois minutos mais tarde veio o
empate. As chances de seguir na Primeira se haviam acabado com a sentença que chegou
no mítico estádio de Avellaneda. O 18 de dezembro daquele ano foi o dia mais triste na
gloriosa história da la Academia, ao
perderde 4-3 ante seu homônimo de
Córdoba e cair para a Primeira B.
Texto adaptado do livro "Inolvidables partidos olvidados", de Eduardo Bolaños, editora Emecé, 2017.
Não énovidade perceber o quanto é perigoso tratar o futebol como entretenimento.
Digo perigoso no sentido, inclusive, de isolar esse esporte de seu vínculo com
a vida em sociedade e, por consequência, jogar a sujeira pra debaixo do tapete.
A imprensa esportiva, mais precisamente a televisiva, tem sido negligente e
irresponsável ao tentar ignorar um tema tão sério – a condenação de um jogador
por um crime gravíssimo. Dissimular e evitar assuntos indigestos, para o mundo
dos negócios, parece ser a tônica de determinados veículos de comunicação.
Na obra
do filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804) encontra-se o fundamento do conceito
de justiça que orientou diversos pensadores nos últimos séculos. Conceito que
contém princípios universais de justiça: entre eles, a igualdade de direitos
humanos e o respeito pela dignidade dos seres humanos como indivíduos. Tendo
isso como pressuposto racional para a leitura da realidade, é visível, no alto
escalão do jornalismo esportivo, o menosprezo pela ética, entendida como
reflexão sobre as noções e princípios que fundamentam determinada moralidade. Com
algumas exceções na grande imprensa, ao assistir e analisar programas de
notícias e debates dos canais Sportv e Fox Sports nos últimos dias verifica-se que
de maneira repetitiva, quase “hipnótica”, esses programas tratam exaustivamente
das movimentações do mercado (contratações) para o início da temporada.
Causa
profundo espanto que diversos jornalistas tratem como normal a especulação do
interesse do clube x ou y no atacante Robinho. Esses profissionais
enaltecem as qualidades técnicas do jogador, mas consideram que a idade e o
salário milionário do mesmo pode ser um entrave na contratação. Daí, pasmem,
entra como uma espécie de nota de rodapé o fato de o jogador ter sido condenado
por um crime em território italiano. Em um programa de debates do canal Fox
Sports, apenas o jornalista Flávio Gomes foi enfático na crítica aos clubes que
demonstram interesse na contratação de alguém envolvido em um ato de barbárie.
A
banalidade do mal, expressão usada pela filósofa Hannah Arendt, encontra-se
aqui no fato de tratar como normal o interesse no talento de determinado
profissional, sem levar em consideração sua ação no mundo. Quando o assunto é
futebol “mainstream”, evita-se questionar o quanto essa cultura patriarcal e
machista é nociva para o esporte e a vida em sociedade. As celebridades do
futebol, potencializadas pelo poder econômico, são protegidas sob as asas do
paternalismo, tem sempre um assessor de imprensa ou um agente que fala por
eles, tomam decisões e, sendo assim, não precisam se responsabilizar pelas
atitudes do dia-a-dia.
Como foi
amplamente divulgado, em novembro do ano passado (2017), o atacante brasileiro
Robinho, atualmente sem clube, foi condenado pela 9ª seção da corte de Milão a
nove anos de prisão pelo estupro coletivo de uma jovem albanesa cometido no
início de 2013 em uma casa noturna da cidade de Milão. Na época, ele era
jogador do Milan. De acordo com a sentença, o abuso sexual foi cometido por ele
e outros cinco brasileiros.
É
inaceitável que grande parte do jornalismo esportivo não trate com seriedade e
respeito um tema tão delicado, que envolveu um episódio violento e extremamente
traumático na vida de uma mulher. O sofrimento dela está sendo ignorado por
pessoas que, pela profissão, deveriam priorizar a investigação e a honestidade
na divulgação de informações que interessam a sociedade.