Corinthians e Palmeiras já tinham se unido em prol de algumas causas. Fosse ela um rival em comum, o Paulistano, que motivou os clubes a montar uma seleção dos melhores de cada lado para derrotar o então grande time da cidade em 12 de outubro de 1917 (Combinado Corinthians-Palestra Itália 2 x 0 Paulistano). Ou até para ajudar outro time da capital paulista, como o jogo para recuperar as finanças do São Paulo em julho de 1938 (Corinthians 0 x 0 Palestra Itália, com vitória alvinegra com o número de escanteios como critério de desempate).
Em 13 de outubro de 1945, uma motivação política em comum colocou Corinthians e Palmeiras em campo, na partida que ficou conhecida como “Jogo Vermelho”.
A menção à cor devia-se ao comunismo, já que a partida teve toda sua renda destinada ao MUT (Movimento Unificador dos Trabalhadores).
No livro que escreveu a esse respeito, “O Jogo Vermelho – Palmeiras e Corinthians 1945” (ed. Edusp), o ex-ministro do Esporte e jornalista Aldo Rebelo (PCdoB) conta que funcionários da Federação Paulista de Futebol e das indústrias têxtil e da construção civil, além de mulheres que atuavam no Partido Comunista, trabalharam para que o jogo ocorresse como um festejo pela queda do regime nazista e pela redemocratização do Brasil -foi o fim da era Getúlio Vargas.
“Percebi a riqueza deste jogo visitando a sala de troféus do Palmeiras [hoje temporariamente desativada]. Essas salas são como uma biblioteca. Quando vi o troféu deste jogo, eu me interessei pelo MUT e vi que era ligado ao Partido Comunista”, afirma Rebelo.
O MUT havia surgido em 30 de abril de 1945 como braço sindical do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Naquele ano, o São Paulo conquistou com folga o Campeonato Paulista. A Federação Paulista costumava também premiar os times de melhor ataque e melhor defesa. O Corinthians apresentava o segundo melhor ataque (só atrás do time campeão), e o Palmeiras contava com a melhor defesa.
Com a simpatia de dirigentes dos clubes e alguns atletas, o jogo foi marcado para 13 de outubro, cerca de duas semanas após o término do Campeonato Paulista.
A partida opunha os corintianos Domingos da Guia (pai de Ademir da Guia, que se tornou ídolo no Palmeiras) e Servílio aos palmeirenses Waldemar Fiúme e Villadoniga.
Deu Corinthians no primeiro tempo: 1 a 0, gol de Servílio. No segundo, com a ausência de Domingos da Guia, aconteceu a virada do time alviverde. Comandada pela primeira vez por Oswaldo Brandão, a equipe marcou com Fiúme, Lima 4º e Villadoniga. Resultado: 3 a 1 para o Palmeiras.
A renda do jogo, de 114 mil cruzeiros (o equivalente hoje a R$ 218 mil), aliviou um pouco as contas do MUT, mas o movimento só atuou até 1946, quando foi substituído pela Confederação dos Trabalhadores do Brasil.
Já o clássico prosseguiu e empunhou outras campanhas, como a da paz nos estádios em 1995 e em 2014.
Súmula do jogo vermelho (Reprodução/Acervo Sociedade Esportiva Palmeiras)
Fonte: https://venceslau.com.br
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